Educação
Doutoranda da UFPel participa de encontro com vencedores do Nobel
Inaê Dutra Valério está entre 80 jovens pesquisadores da América Latina e do Caribe selecionados para o debate virtual
Divulgação -
A doutoranda do programa de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Inaê Dutra Valério, está entre 80 jovens pesquisadores da América Latina e do Caribe selecionados para um encontro virtual com cinco vencedores do Prêmio Nobel. O evento é promovido pela Nobel Prize Outreach, em parceria com a Academia Brasileira de Ciência e Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS).
Inaê é formada em Nutrição pela UFPel e concluiu o mestrado no programa de Epidemiologia, mesmo em que está no terceiro ano de doutorado. Ela mora, atualmente, nos Estados Unidos, em doutorado sanduíche com bolsa do governo federal, "uma das poucas bolsas que restam", lamenta.
O processo seletivo para o encontro com os vencedores do Nobel foi feito em etapas: primeiramente, uma seleção interna no programa, com votação de colegas da Epidemiologia. Depois, houve a seleção dentro da UFPel; posteriormente, 16 alunos foram escolhidos, dentre 150, como representantes brasileiros no encontro. Ao todo, são 80 estudantes que participarão do debate.
"Foi uma honra e uma alegria muito grande. O Brasil tem muitos pesquisadores jovens capacitados, com grandes currículos. Estou muito animada", afirma Inaê. A pesquisadora entusiasma-se com essa aproximação aos vencedores do Nobel e relata as diferenças estruturais de cientistas na América Latina em comparação com os países desenvolvidos.
"A gente não tem representação, nem brasileiros e pouquíssimas representação na América Latina (no Prêmio Nobel)", aponta. "Trabalho com programa estatístico aqui nos Estados Unidos e eles têm os mais avançados de todos os programas. Consigo acessar os programas pelo meu computador de casa, não é como no Brasil que precisava ir à biblioteca do programa que, para usar, tinha que ter disponibilidade", acrescenta.
Segundo Inaê, a realidade brasileira é semelhante em toda a América Latina. Encontrar-se com os vencedores do Nobel, para a pesquisadora, é uma forma de denunciar as más condições e a falta de investimento em ciência na região.
"Denunciar situações e conseguir conselhos de pessoas que estão em alto patamar da ciência, de como foi o início da carreira, passos que fizeram ou o que gostariam de ter sabido antes de estarem onde estão".
No encontro, ela deve abordar temas como "a responsabilidade dos cientistas, principalmente social, o poder da colaboração entre cientistas, como a ciência pode ajudar na formação de políticas públicas e na sociedade de forma geral", detalha.
O Diálogo Prêmio Nobel América Latina e Caribe ocorre nesta terça-feira, 16, e terá a presença da microbióloga francesa Emmanuelle Charpentier, vencedora do Nobel de Química em 2020, da australiana Elizabeth Blackburn e da norueguesa May-Britt Moser, vencedoras do Nobel de Medicina em 2009 e 2014, respectivamente; do norte-americano Saul Perlmutter, Nobel de Física em 2011; e do holandês Bernard Feringa, Nobel de Química em 2016.
Queda de investimentos
A falta de investimentos do governo federal na ciência e na pesquisa, relatada por Inaê, foi abordada pelo pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da UFPel, Flávio Demarco. "Na maioria do mundo a gente teve ampliação do investimento em ciência pelos países nesta pandemia. Porém, no Brasil, a gente teve outro discurso por parte do governo, baseado no negacionismo, contra as vacinas e medidas recomendadas pelos cientistas", lamentou.
Segundo levantamento do Jornal Nexo, com base nos dados do Ministério da Economia, o investimento na Capes e no CNPQ em 2021 foi menor do que no ano 2000 - menos de R$ 4 bilhões, com valores corrigidos pelo (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em 2015, as cifras nos dois programas de pesquisa foram acima de R$ 12 bilhões. "Este corte desconsidera todo o avanço que o Brasil teve em ciência", relata Demarco. Na UFPel, 70 bolsas de mestrado e doutorado foram extintas. "Usávamos para apoiar políticas de inclusão e novos programas", conclui.
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